Questionada sobre as consequências de possíveis terremotos, como o que ocorreu no último dia 23 de agosto na Itália, a coordenadora do Grupo Sísmica, da Ordem dos Arquitetos de Portugal, Alice Tavares, admitiu motivos de preocupação em Lisboa e no país em geral.
A especialista destacou "uma falta de técnicos também sensibilizados que devem procurar especialistas nesta área para determinadas situações, principalmente no edificado mais antigo". Se no caso de edifícios novos as estruturas em betão deverão "responder às solicitações de uma ação sísmica", a situação não será assim na reconstrução de imóveis antigos, que não respondem da mesma forma a um tremor de terra.
A arquiteta apontou o cuidado a ter, por exemplo, com as demolições em edifícios da Baixa lisboeta, na totalidade ou de partes substanciais de paredes interiores, que servem de complemento na absorção da ação sísmica. Para a especialista, deve ser "mais acautelada e controlada" a reabilitação do edificado, nomeadamente as "intervenções 'ad-hoc'", com demolições interiores ou de paredes da fachada, que são bastante lesivas "da resiliência sísmica do edifício", e a construção de caves que afetem os níveis freáticos.
Apesar de admitir a existência de intervenções na Baixa de Lisboa em que são asseguradas as normas legais, a arquiteta notou que "existem muitas outras que não estão a acautelar" os riscos sísmicos.
A Ordem dos Arquitetos, a Ordem dos Engenheiros e a Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica estão elaborando "um documento que sirva para funcionar como um regulamento", mas Alice Tavares destacou a necessidade de "um Código de Construção", que inclua as devidas preocupações relativas à possibilidade de terremotos.
A especialista considerou que o país aposta mais "ao nível da preparação para o pós-terramoto", quando as instituições deveriam estar focadas em "medidas preventivas que aumentassem a resiliência sísmica dos edifícios e que precavessem determinadas situações graves que provavelmente irão acontecer".